
"Uma maneira de viver, de amar." É assim que o saxofonista e compositor italiano
Stefano di Battista, 38, define o gênero musical ao qual vem se dedicando há duas décadas. Um dos músicos mais conceituados na cena atual do jazz europeu, ele fará duas apresentações no
Tim Festival: sexta-feira, em São Paulo, e sábado, no Rio de Janeiro. A vinda de Battista coincide com o lançamento no país de "
Trouble Shootin'", seu quinto álbum pelo selo de jazz Blue Note. No repertório, ao lado de oito composições próprias, aparecem temas clássicos dos norte-americanos Horace Silver, Bobby Timmons e Kenny Burrell, que indicam vínculos do italiano com o hard bop e o soul jazz dos anos 50 e 60. "Para mim foi muito prazerosa essa experiência de gravar alguns blues com um órgão Hammond, sem baixo. Conversei bastante com [o produtor] Michael Cuscuna sobre aquela época tão especial do jazz. Foi muito divertido", conta o saxofonista. "Gravamos esse álbum "ao vivo", em apenas um take. Foi ótimo porque assim a música soa mais real", observa Battista, que trará ao Brasil um quarteto de formação pouco comum: o italiano Fabrizio Bosso (trompete), o francês Baptiste Trotignon (órgão Hammond B3) e o norte-americano Greg Hutchinson (bateria), que esteve aqui há pouco com Joshua Redman. Para explicar a ausência do guitarrista norte-americano Russell Malone, que participou de várias faixas do álbum, como bom italiano que é, Battista não perde a chance de fazer um comentário levemente malicioso. "Russsell me deixou na mão para acompanhar a Diana Krall, mas eu compreendo o porquê de ele trocar um saxofonista por uma cantora", alfineta o músico.
À brasileira: Entre os temas do novo álbum que Battista deve tocar no Tim Festival certamente estará "Echoes of Brazil", uma bossa nova inspirada na música de Ivan Lins. "Nos tornamos amigos uns cinco anos atrás, em Roma. Fiquei completamente apaixonado pela música do Ivan", derrete-se. Quando o assunto se volta para a polêmica levantada no ano passado pelo crítico britânico Stuart Nicholson, que afirmou que o jazz norte-americano tem sido superado pelo jazz europeu em termos de inventividade, Battista é um pouco mais reticente. "Essa é uma questão difícil. Sem dúvida, o jazz europeu se fortaleceu bastante, nos últimos anos, mas há muitos músicos de jazz dos EUA com novas idéias, que também procuram algo novo. Acho que os jazzistas europeus e os norte-americanos estão no mesmo nível hoje", conclui. (Carlos Calado para a Folha de São Paulo).