Três décadas atrás ele se viu, de um dia para o outro, tocando com uma das bandas mais cultuadas da época. Al Di Meola ainda não tinha completado 20 anos, em 1974, quando o tecladista Chick Corea o chamou para assumir a guitarra do Return to Forever. Assim, Meola virou um dos monstros sagrados da geração fusion (fusão do jazz com o rock e o pop), que dominou a cena do jazz nos anos 70. "Graças a Chick, tive a chance de tocar a melhor música da época", disse o também violonista à Folha, por telefone, de Nova Jersey (EUA). Meola se apresenta amanhã, em São Paulo, e sexta, no Rio, com o trio The Rite of Strings, que destaca outros dois astros da década de 70: o violinista francês Jean-Luc Ponty e o baixista americano Stanley Clarke. Assim como freqüentou o topo da cena musical, Meola também amargou anos difíceis, no início da década de 80, quando a crítica passou a acusá-lo de tocar sem emoção, com excesso de notas e de virtuosismo. Desde então, já convertido ao jazz acústico, Meola gravou mais de uma dúzia de álbuns que mostram seu amadurecimento como instrumentista e compositor. À frente de diversas formações, incorporou influências da Espanha, da América do Sul e do Oriente Médio, construindo assim um repertório focado na world music. "Os críticos só ouviram meus primeiros discos e se fecharam num ponto de vista", reclama. "A partir dos anos 80, meus álbuns mudaram em termos de emoção e influências. Gostaria que esses críticos ouvissem os quase 20 discos que perderam. Muitos deles são guitarristas frustrados", retruca. Apesar de ter assimilado as críticas em relação aos excessos do início de sua carreira, Meola não renega a fusion de sua geração. "Ouvir os álbuns do Weather Report, da Mahavishnu Orchestra e do Return to Forever traz uma certa nostalgia, mas continuo achando que são grandes discos", afirma, revelando algo que vai excitar seus fãs daquela época. "Estou feliz por poder anunciar que, após mais de 30 anos, o Return to Forever vai voltar. Já temos shows agendados para o próximo ano. Chick Corea, Lenny White, Stanley Clarke e eu vamos fazer uma turnê, em julho e agosto de 2008", afirma. Outro projeto antigo do qual Meola não desistiu é o da parceria com o pianista e compositor brasileiro Egberto Gismonti. "Um dos meus sonhos é fazer algo com ele, talvez uma turnê. Seria maravilhoso. Estivemos próximos de fazer algo juntos, mas não aconteceu. Vou visitá-lo quando chegar ao Rio". Quanto a novos projetos de discos, Meola não se mostra animado. "O estímulo para gravar hoje já não é o mesmo. O mercado de shows melhorou, mas as vendas de CDs caíram muito", justifica, culpando as gravadoras. "A qualidade da música de hoje é ruim porque a indústria glorifica porcarias como o rap e outras coisas horríveis que estão por aí. Isso está fazendo um mal tremendo à própria indústria. Mas a música de qualidade continua viva, e os grandes músicos sempre vão poder continuar fazendo shows", conclui. Meola se apresenta dia 22/11/07 em Sampa, no Credicard Hall. (Carlos Calado para a Folha de São Paulo).