
O resultado valoriza instrumentos conhecidos dos brasileiros, como o cavaquinho, em uma sonoridade de difícil especificação. Passeia pelo samba, tem um quê de bossa nova, mas é mesmo o que denominam de world music. Com passagens por Angola, Senegal e Alemanha - por conta do padrasto que foi embaixador - Mayra se configura um oceano de influências. "Essas misturas formaram minha personalidade, minha forma de encarar minha tradição, de trazer alguma coisa diferente para a cultura cabo-verdiana", diz. Navega é um título que demonstra a forte relação de Cabo Verde com o mar. No arquipélago, a 500 km da costa do Senegal, tudo é envolto por água salgada. Lá, o mar é visto de forma melancólica por ter "levado muita gente", mas também uma via por onde se conhece novos mundos. "O mar é nossa gaiola dourada. Historicamente, sempre representou a ida e a esperança do regresso: é uma dualidade". Mayra Andrade vem colhendo boas críticas e por conta do sucesso e da forma como transmite a cultura cabo-verdiana foi incensada como a nova Cesaria Évora. Sobre isso, pondera: "Nem eu estou procurando fazer o mesmo caminho que a Cesaria, nem ela está procurando sucessoras. Cabo Verde não precisa de uma nova Cesaria, afinal ela continua vivinha. Eu espero ser Mayra Andrade e quero me destacar pela minha identidade". A cantora pediu seu primeiro violão aos cinco anos. A precocidade ajudou para que a primeira vez no palco, aos 14 anos, fosse encarada com naturalidade. "Era minha primeira vez, mas na verdade não. Era um desejo desde criança. Como vocês dizem aí no Brasil, essa sempre foi a minha praia", diz, rindo.
Hoje mergulhada em ecléticas sonoridades - seu IPod vai do jazz de Ella Fitzgerald ao rock do Queens of the Stone Age -, ela demonstra sintonia com a música brasileira. Mayra conta ter crescido ouvindo Caetano Veloso. "Quando eu penso em referências, penso muito nele. Caetano, sem saber da minha existência, foi meu padrinho", declara ela, que hoje inclui Chico Buarque, Milton Nascimento e Maria Bethânia no rol de músicos que admira. Mais prova da sua relação com o País é a banda que a acompanha: todos brasileiros. O contato começou em Paris, quando ia ouvir música brasileira em casas que tinham na França. "Era uma forma de me sentir mais em casa", observa. "Fui conhecendo alguns músicos e foi assim que convidei cada um para trabalhar comigo". Ela já esteve no Brasil, em 2003, mas este será o primeiro show em território brasileiro. "Minha expectativa e dos músicos é muito grande, e a gente não tem outra opção a não ser fazer três shows bombásticos porque nossa intenção é voltar mais vezes". A cantora avisa que está chegando ao aeroporto e de que é hora de encerrar a entrevista. Peço a ela uma avaliação da pluralidade cultural cabo-verdiana. "Cabo Verde é um país que se situa no cruzamento das Américas, da Europa e da África. É um celeiro de riqueza e mestiçagens, reunindo um leque muito vasto de ritmos".
Mayra Andrade. Bourbon Street. Rua dos Chanés, 127, 5096-6100. Quarta-feira, 10, às 22h30. R$ 85. Sesc Pompéia. Rua Clélia, 93, 3871-7700. Quinta-feira, 11, às 21h. De R$ 4 a R$ 16. Sesc Santo André. Rua Tamarutaca, 302, 4469-1200. Sexta-feira, 12, às 21h. R$ 20. Clique AQUI para ver e ouvir Mayra.