36 horas em New Orleans

Que outra cidade, após ser inundada e abandonada à fome, frustrada pelas autoridades e atacada pela doença auto-imune do crime desenfreado, conseguiria se erguer com dificuldade para receber os visitantes com um prato de ostras e uma banda de metais? Que lugar, menos de dois anos depois do furacão Katrina, poderia propiciar passeios de bonde e desfiles improvisados, música em embarcações fluviais e sapateadores nas calçadas? Quando os historiadores olharem para trás, a capacidade da cidade de ser um local capaz de abraçar a alegria e o pesar com igual animação nestes momentos mais difíceis se tornará parte de sua lenda. Sexta-feira - 17h - Drinques na varanda - Nova Orleans é um estado de espírito, adquirido mais eficientemente em um coquetel vespertino. No bar do Columns (Saint Charles Avenue, 3811; 504-899-9308), uma mansão ao estilo italiano transformada em hotel no Distrito Garden, aquela que deve ser a varanda mais convidativa do Sul flerta com a maior via pública da cidade. Tome um Campari com soda ao ar livre (US$ 7) ou suba ao bar, com seu pé direito de 5 metros e teto com pinturas ornamentais e sofá circular. Tanto exagerado quanto um pouco surrado, o Columns foi o cenário perfeito para "Pretty Baby -Menina Bonita", o filme de Louis Malle sobre um bordel na virada do século passado, apesar de estar muito distante do antigo distrito da luz vermelha que pretendia evocar.

20h - Jazz e livros - Os colonizadores franceses de Nova Orleans podem ter se rendido ao domínio espanhol, mas não ao governador espanhol, pois não gostavam dele, de sua esposa ou de seu vinho catalão. Em 1768, eles se rebelaram, o expulsaram da cidade e uma rua recebeu o nome deles devido à dor de cabeça: Frenchmen Street (rua dos franceses). Hoje, a rua se rebela alegremente contra outra tomada: a enxurrada de turistas no Bairro Francês, do outro lado da Esplanada. Na Frenchmen, é possível ouvir boa música e conhecer os moradores locais, que em ambos os casos costumam sair dos clubes e tomar as ruas. Aqueles com interesse por jazz sério podem pagar entre US$ 15 e US$ 35 (dependendo da apresentação) no Snug Harbor (Frenchmen, 626; 504-949-0696; www.snugjazz.com), onde os membros das dinastias Marsalis ou Neville fazem aparições freqüentes ao lado de maestros como o trompetista Irvin Mayfield e o baterista Johnny Vidacovich. Um clima mais casual e animado reina do outro lado da rua no Spotted Cat (Frenchmen, 623; 504-943-3887), onde seu espaço é em grande parte uma pista de dança exceto por um par de sofás disputados. Outras opções -por que escolher apenas uma?- incluem o d.b.a. (Frenchmen, 618; 504-942-3731), que também tem música ao vivo e uma longa lista de uísques single malt (a partir de US$ 7), ou o Ray's Boom Boom Room (Frenchmen, 508), que oferece aulas de dança latina às 21h, seguidas (às vezes acompanhadas) por uma banda. Quando seus ouvidos precisarem de um descanso, pare na Faubourg Marigny Art & Books (Frenchmen, 600; 504-947-3700), onde é possível encontrar livros sobre Nova Orleans, literatura gay e lésbica, cartões postais e a verdade pura sobre a cidade por conta de Otis Fennell, o proprietário, que permanece aberta até "tão tarde quanto precisar". Sábado - 9h - Levantamento dos estragos - "Quão ruim está?" todo mundo perguntará quando você retornar. Se prepare para responder na Gray Line Katrina Tour, que começa em um quiosque à margem do rio na Jax Brewery, no Bairro Francês (www.graylineneworleans.com; 800-535-7786; US$ 35). Mike Jones, um dos guias, aponta para as casas de seus amigos e conta as dificuldades que tiveram com as seguradoras, decodifica a sinalização de busca e resgate e explica como as barragens se romperam. O passeio é popular e é preciso fazer reserva. Se três horas em um ônibus for demais, procure um dos muitos taxistas com licença para trabalhar como guia turístico e negocie um passeio mais curto. 12h30 - Navegação - Em Crescent City, assim chamada por causa da curva do rio em forma de lua crescente, não há norte, sul, leste ou oeste. Você pode ir para o lago, para o rio, rio acima ou rio abaixo. Assim, a partir do ponto do ônibus, atravesse a Jackson Square, que até hoje parece um cenário do filme "Mary Poppins". Siga em direção ao lago. Vá até o fim até a Rampart Street e vire à direita. Siga rio abaixo. Atravesse a Esplanade, continue por mais um quarteirão e entre na loja de conveniência laranja. Aí é o paraíso. Peça um po-boy (sanduíche longo) de camarão em pão francês e se junte a todas as outras pessoas, algumas ainda de chinelo de dormir, que aguardam por seu prato de US$ 4,29 (Rampart Street Food Store; North Rampart Street, 1700; 504-944-7777). 14h - A verdadeira história - Você está agora na junção de três bairros: o Faubourg Marigny, o Bairro Francês e o Treme, um parte historicamente negra da cidade, onde gerações de músicos da cidade cresceram e aprenderam a tocar. Grande parte de tal história, mais outras tradições altamente afro-americanas de Nova Orleans como as gangues esqueleto, as paradas de jazz e os índios do Mardi Gras (o carnaval local) com suas fantasias carnavalescas artesanais, foi adoravelmente colecionada por Sylvester Francis do Backstreet Cultural Museum (Saint Claude Avenue, 1116; 504-522-4806; US$ 5), situado dentro de uma ex-funerária no Treme (a pronúncia é tremai). Em uma cidade onde a História ainda está sendo escrita, pequenos templos como o Backstreet são legião e seus únicos proprietários, como Francis, são oráculos. 15h30 - Poções e perfumes - O New Orleans Pharmacy Museum (Chartres Street, 514; 504-565-8027; www.pharmacymuseum.org; US$ 5) pode soar um pouco desinteressante, mas esta casa de 1823 é como uma versão concentrada da própria cidade, com exposições não apenas sobre artigos farmacêuticos e fontes de refrigerante, mas também remédios para ressaca, poções vodu, absinto, ópio e "práticas médicas questionáveis". Você também pode ter algumas boas idéias para suvenires: um "tabaco raro e intoxicante" chamado perique, cultivado apenas em um pequeno campo em uma paróquia na Louisiana, está disponível na vizinha Cigar Factory por US$ 10 o pote (Decatur Street, 415; 504-568-1003). O vetiver, a fragrância que o museu diz ser a preferida das mulheres creole, pode ser comprado virando a esquina na Hove Parfumeur, na forma de perfume (US$ 19 por um dram, ou 1/8 de onça), sabonete (US$ 7) ou simplesmente maços da raiz, 3 por US$ 10 (Royal Street, 824; 504-525-7827; www.hoveparfumeur.com). 18h - Pratos locais - Para cada Emeril's, Antoine's ou Brennan's nesta cidade famosa pela gastronomia, há um adorado restaurante de bairro pelo qual os moradores locais estão dispostos a aguardar horas por uma mesa. No Dick and Jenny's (Tchoupitoulas Street, 4501; 504-894-9880; www.dickandjennys.com), em um tranqüilo chalé em Uptown, os pratos incluem um apetitoso cheesecake de lagostim e andouille (US$ 9), sweetbread (pâncreas de vitela) com noz-pecã (US$ 9,50) e salmão com Gewurztraminer beurre blanc (US$ 20). Ele não aceita reserva, então acomode-se na varanda com um coquetel e espere. 21h - Seleção musical - Pergunte aos moradores de Nova Orleans sobre que música pode-se ouvir na noite e as chances são que saberão de cor (caso contrário, pegue uma cópia gratuita da revista "Offbeat"). Ouça os principais artistas da cidade, como Rebirth Brass Band, Hot 8, Kermit Ruffins and the Barbecue Swingers, John Boutte ou Troy (Trombone Shorty) Andrews tocarem em várias casas, incluindo o Maple Leaf Bar (Oak Street, 8316; 504-866-9359; couvert de cerca de US$ 8), com sua pista de dança lotada, paredes de zinco e um pátio perfeito para uma breve pausa. Domingo - 10h - Ambição - O que é adorável no Elizabeth's (Gallier Street, 601; 504-944-9272; www.elizabeths-restaurant.com) é que alguém ali tentou melhorar o bacon. O resultado é o bacon praliné, uma combinação de noz-pecã cristalizada e carne de porco salgada (US$ 4). O restaurante pequeno e simples à sombra da barragem do Rio Mississippi já conta com seu segundo proprietário desde o Katrina, mas mantém seu antigo chef, Bryon Peck, e grande parte de seu velho cardápio: carne grelhada com grãos de aveia (US$ 13) e fígado de frango frito com geléia de pimenta (US$ 5,50). 13h - Siga a música - Nova Orleans é um local tribal, feito de escolas do Mardi Gras e grupos conhecidos como Social Aid and Pleasure Clubs, formados originalmente para fornecer seguro funerário. Agora os clubes não apenas oferecem funerais com jazz, mas também realizam seus próprios desfiles, conhecidos como second lines, que passam pelos bairros da cidade, freqüentemente de bar em bar nas tardes de domingo. O Nine Times, Original Four e Mahogany Ladies são apenas alguns dos clubes que tentam superar um ao outro com adereços coloridos e as melhores bandas de metais da cidade. Se tiver algum tempo sobrando, consiga um "mapa da rota" da second line -a idéia é segui-la, não ficar assistindo da calçada. Para isso, procure cedo por Sylvester Francis no Backstreet, ou faça amizade com o barman ou porteiro. Porque, como qualquer um em Nova Orleans lhe dirá, a melhor forma de ouvir uma banda de metais é dançando na rua atrás dela. Informações básicas - Alugar um carro certamente é uma opção assim que você chega lá, mas a cidade é compacta e estacionar no Bairro Francês é quase impossível. Então, considere pegar um táxi até seu hotel e circular a pé ou de bonde; as linhas da Canal Street e Saint Charles Avenue estão funcionando (a passagem custa US$ 1,25). A "Big Easy" conta com todas as redes de hotel que você pode pensar, mas ainda há hotéis de propriedade familiar no Bairro Francês. O clássico Olivier House (Toulouse Street, 828; 866-525-9748, www.olivierhouse.com) conta com uma série labiríntica de pátios interiores; diárias a partir de US$ 135. Fuja do Bairro Francês para o pouco convencional, porém mais sereno, bairro Bywater, no Lookout Inn (Poland Avenue, 833; 888-947-8188; www.lookoutneworleans.com) com suas suítes "Quem Morreu e Tornou Você Elvis?", "Bollywood" e piscina de água salgada. Os quartos custam US$ 79. Em Uptown, Don Hubbard, um líder do movimento dos direitos civis local, e sua família dirigem a Hubbard Mansion (Saint Charles Avenue, 3535; 504-897-3535; www.hubbardmansion.com), uma réplica recém-construída de uma casa estilo revival grego em Natchez, Mississippi. Diárias dos cinco quartos cheios de antiguidades a partir de US$ 129. (Fonte: SHAILA DEWAN - New York Times Syndicate)

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