Metheny Mehldau é eleito CD do ano

O CD intitulado Metheny Mehldau (Nonesuch), que mestres Pat (guitarras) e Brad (piano) gravaram em dezembro de 2005, foi lançado em setembro do ano passado. Mas foi eleito o álbum do ano pelos leitores da Down Beat, com 300 votos - 24 a mais do que Sonny, please (Doxy), do canonizado Sonny Rollins. Os resultados do pleito estão na edição deste mês da ainda mais influente revista especializada em jazz. O ano válido para a consulta da DB a seus leitores vai de setembro a setembro. Pela primeira vez, neste 72º referendo aberto ao público, a votação foi on-line, com rigoroso sistema de controle. Houve campanha aberta nos blogs, o que não desmerece a conquista da dupla Pat Metheny- Brad Mehldau. Individualmente, eles foram também distinguidos como os melhores em seus instrumentos. Ao comentar o CD neste espaço, em novembro do ano passado, arrisquei: "Metheny Mehldau estará, sem dúvida, em muitas listas respeitáveis dos 10 melhores discos do ano". A previsão confirmou-se, em agosto, no poll anual dos críticos do mundo todo promovido pela mesma DB. O registro da refinada confabulação de Pat e Brad obteve então 32 pontos, atrás apenas de quatro álbuns: Sound grammar, de Ornette Coleman, que ganharia, mais tarde, o Prêmio Pulitzer da música; Trio beyond/Saudades (Jack DeJohnette-Larry Goldings-John Scofield); Sonny, please; The Carnegie Hall concert, do magnífico trio de Keith Jarrett. Não será surpresa se, no próximo ano, a dupla conquistar de novo um número expressivo de corações e mentes dos críticos e do "leitorado" da DB. Nas mesmas sessões de 2005 em que produziram o CD em duo, Pat e Brad gravaram Quartet, com o apoio dos sidemen do trio fixo do pianista (Jeff Ballard, bateria; Larry Grénadier, baixo). O disco, guardado pela Nonesuch, só foi distribuído em março deste ano e é uma extensão do álbum campeão do último referendo dos leitores da revista. O duo aparece ainda em quatro de suas 11 faixas, que podem ser densas e alongadas (A night away, composição da dupla, de oito minutos, interpretada pelo quarteto) ou breves e delicadas (Martha's theme, de Metheny, desenvolvida em duo, em apenas 2m30). O guitarrista escreveu sete das 11 peças de Quartet, das quais duas com tempero bossa nova (En la tierra que non olvida e Secret beach). Mehldau assinou três, com realce para Fear and trembling e Santa Cruz slacker. A segunda parte das sessões de dezembro de 2005 é também um registro primoroso das sofisticadas invenções melódico-harmônicas, em sua maior parte líricas, de dois virtuoses que - apesar do gap de gerações (Pat tem 53 anos, Brad 37) - parecem ter nascido para tocar juntos. E com a missão de mostrar que a verdadeira fusão piano-guitarra ainda é possível na terra do jazz, mesmo que Bill Evans e Jim Hall já não possam mais marcar encontros. (Luiz Orlando Carneiro, para o Jornal do Brasil).

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