"O pintor moderno paradigmático." Assim o crítico de arte, curador e ex-professor do Royal College of Art, o alemão Robert Kudielka, resume à Folha a importância de Henri Matisse (1869-1954) nas artes plásticas. Um dos grandes especialistas em vanguardas do começo do século 20, Kudielka celebra o lançamento no Brasil de "Matisse - Escritos e Reflexões sobre Arte", grande volume de 400 páginas que a Cosac Naify acabou de colocar nas livrarias. O próprio Kudielka terá ensaio publicado em outra edição sobre Matisse que a editora lançará até abril. A crítica de arte, curadora e professora da ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo) Sonia Salzstein é a organizadora do livro, que também contará com textos do britânico T.J. Clark e do carioca Ronaldo Brito, entre outros. "Ele [Matisse] se destaca entre os grandes artistas do século 20 por ter sido o pintor moderno paradigmático: atravessou todas as crises de um artista não amparado em nenhuma tradição e mostrou, nas suas várias transformações, que a redescoberta e o aprendizado integral da pintura a partir dos seus próprios fundamentos podem ser a tarefa de uma vida criativa", afirma Kudielka. No livro, o organizador Dominique Fourcade divide em capítulos algumas das questões fundamentais da pintura de Matisse, como o conflito entre o desenho e a cor, e suas diversas fases, como a do início de sua trajetória, ligada ao fauvismo, a dos trabalhos da Fundação Barnes, iniciados em 1931, nos EUA, e a série "Jazz", publicada em livro em 1947. Há também vários textos e depoimentos de Matisse, incluindo o essencial "Notas de um Pintor", de 1908, onde ele comenta sua busca por uma depuração plástica. "Há duas maneiras de exprimir as coisas: uma é mostrá-las brutalmente, a outra é evocá-las com arte. Ao nos afastarmos da representação literal do movimento, chegamos a uma maior beleza e uma maior grandeza", escreve. "A liberdade que Matisse reivindicou e concretizou em sua arte não é a da expressão subjetiva imediata. Ele percebeu que os sentimentos só podem ser expressos na pintura se eles atingirem uma forma comunicável. É o cerne da sua concepção de arte", diz Kudielka. "A partir dessa contradição criativa compreendemos porque a sua pintura nunca é agitada ou exaltada, mas mais suave e resignada." (Mario Gioia para a Folha de São Paulo).